27.7.08
Diretiva da Vergonha: a Europa se en-direita
A reação da UE à presença dos imigrantes (atraídos para esses países como as empresas são atraídas para os Tigres Asiáticos, por exemplo) mostra o paradoxo no cerne do affair capitalismo+conservadores. Ao contrário do que pensa o Olavo de Carvalho, a desregulamentação da economia (o chamado "livro mercado") não favorece a defesa das tradições (e da hierarquia vigente), mas as ameaça severamente se levada ao auge. Por isso, não aplicam suas próprias leis, não seguem seus próprios códigos.
Hipocrisia crônica é a única solução para os ricos. Fingir que há oportunidades para todos, mas castrar as esperanças sem extinguir a crença no "sistema". Nojento, sim. Mas razoavelmente eficaz.
Qual o papel da esquerda diante de um quadro desse? Revelar o que eles tanto tentam esconder: o absurdo intrínseco que sustenta as relações comerciais sob o signo do "livre comércio". Sustentar os direitos primordiais dessas pessoas, ante as pressões desumanizantes das elites reacionárias.
14.7.08
6.7.08
Invasão Ianque? No way!
1. O Brasil é imenso, tem áreas intransitáveis pra onde o Exército poderia conduzir a guerra (Amazônia e Pantanal, pra ficar nos exemplos óbvios);
2. tem uma população majoritariamente desfavorável à política intervencionista dos EUA;
3. é o líder natural do Terceiro Mundo (a América Latina em peso ia dar apoio ao Brasil);
4. tem gente muito bem treinada pra combate urbano;
5. até os traficantes iam entrar na onda com todo o seu know-how e artilharia pesada;
6. é um país quase 90% cristão (isso pesa no imaginário deles e na repulsa veemente do papa e de inúmeros religiosos ao ataque);
7. é uma das maiores economias do mundo;
8. é a maior democracia ao Sul do Equador...
Enfim, invadir o Brasil seria suicídio.
Nem sei o que poderia levá-los a tanto. O Brasil não entra em guerras há décadas, mas creio que se viraria bem em uma em seu próprio território. Eles nem têm uma boa noção de geografia pra saberem se localizar por aqui. Então... sem grilo. Que ousem invadir. Não sobrará nem uma pena.
Seria preciso que o Brasil fosse governado por alguém muuuuito mal visto, com um histórico de péssima diplomacia e tom belicista, como o Chavéz. Com o Lula no poder, qualquer querela internacional se resolve facilmente pelos trâmites legais.
O Brasil provou ser de fato um gigante (ainda adormecido?) ao não tomar medidas brutais quando os interesses da Bolívia representaram uma quebra de contrato com a Petrobras e um "ataque aos interesses brasileiros", como foi tão alardeado pela Mídia direitista. Não ter tomado uma atitude à la Bush foi a maior prova de que não vamos virar o que a Direita gostaria - mais uma potência cruel a somar-se ao G7. O Brasil tem a responsabilidade de apontar um novo caminho ao mundo. Sabe-se que muitos países tendem a seguir o nosso em caso de sucesso do brazilian way .
Do BRIC eu aposto todas as minhas fichas no Brasil (se o PiG e os militares não colocarem tudo a perder), como futura "potência amiga", uma potência de esquerda, uma "União Soviética cor-de-rosa", por assim dizer, alternativa socialista (ou ao menos social-democrata) aos delírios totalitários da libertinagem capitalista. Para refazer o equilíbrio, pra ter alguém que ponha o dedo na cara do próximo Bush e diga "há outro jeito de fazer as coisas".
5.7.08
Tenho nojo do Jornalismo de Mercado.
Leiam no link abaixo:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15096
E, antes que digam "isso é armada de esquerdopata", analisem bem o que o texto apresenta. Nem a direita pode negar. Só vai interpretar de forma diferente.
17.6.08
A Esquerda e a Pessoa
Se queremos uma convivência digna entre todos os cidadãos desse país, devemos parar de nos ater a detalhes mesquinhos como a cor da pele, seus entes de devoção ou o gênero de seu cônjuge. Nada disso importa. A esquerda está aqui para mostrar que as leis devem se ater ao essencial.
Esse país é feito essencialmente de pessoas. Pessoas que querem ser felizes como podem. Quando milênios de estupidez nos fazem esquecer que há PESSOAS no cerne de cada "outro", de cada "subversivo", de cada "inferior"... que negros, mulheres, gays, ateus são todos GENTE, acima de tudo, GENTE... cabe ao Estado, se conduzido pela esquerda, ajudar a sociedade a recuperar essa verdade essencial.
Que importa aos outros com quem eu me deito se eu e essa pessoa (que há para aquém do gênero) desejamos a relação em todo o seu curso?
Enxergar sempre a pessoa fundamental em cada um: esse é o ensinamento mais importante da Esquerda.
15.6.08
Tucanato do DEMo
Tucanos: "Pecado, eu? Ora... Isso é invenção dos petralhas!"
Demos (nunca esqueçam Hildebrando Pascoal): "É preciso acabar com essa raça! Onde está minha serra-elétrica?"
PIG (Partido da Imprensa Golpista): "Suspeita contra o PT não existe. Contra o PT só há certezas".
"Bem-Informados": "Mas deu na Veja..."
E assim segue a Comédia Humana, onde Lula é feito de bode (expiatório) e o povo é feito de mula para os santos-de-pau-oco.
Que Vergonha!
Já me chamaram disso tudo.
Não sei como ainda têm a ousadia de me deixarem vivo!
5.6.08
Impostos
Confira matéria sobre relatório do Ipea:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u409018.shtml
30.5.08
CNBB e Células-Tronco
Quem achou ruim, que vá reclamar ao bispo.
Ah, é... Ele não vai poder fazer nada, porque o Estado é laico. =)
Confira:
http://noticias.br.msn.com/brasil/artigo.aspx?cp-documentid=7803423
29.5.08
Socialismo Libertário
Libertário significa que almejo uma sociedade suficientemente segura de suas similitudes fundamentais, do respeito à mínima lei do Humanismo (nada acima da Pessoa e nenhuma Pessoa acima de outra) que não lhe seja nada difícil abraçar a diversidade de comportamentos em uma harmonia deliciosa. As idiossincrasias e as excentricidades, desde que não firam o príncipio essencial da convivência, são muito bem-vindas.
Em outras palavras: sou Anarquista. Um anarquista (servo da mais perfeita ordem) no caos (de nosso descontrole econômico que nos leva a abandonar os outros à própria sorte e dizer que são livres).
Sou anarquista, sim. Não dos que lançam coquetéis molotov em embaixadas, mas dos que querem entender como, através de subterfúgios sutis, podemos alcançar nossa real Liberdade (coletiva, não meramente individual - que acaba sendo egocentrismo pueril disfarçado de atitude libertária).
Oras, sou anarquista, sim. Mas de esquerda! Não sou um direitista irritante que distorceu uma palavra tão bonita, criando uma aberração ideológica, esse que vagam pelo orkut sob o nome de "Libertários".
Tantos caíram pelo caminho, descrentes de tudo. Mas vale a pena lutar! Se amamos alguém a quem desejamos um mundo melhor, vale a pena até mesmo sacrificar nossa própria existência!
Mas, como diz a canção, "as pessoas da sala-de-jantar são ocupadas em nascer e morrer".
26.5.08
Sul-América
Um sonho antigo que pode virar realidade é a tão sugerida e pouco visível integração sul-americana. Nosso presidente tem se reunido com os governantes de outros países de nossa porção do continente para discutir uma espécie de União Européia dos trópicos. Louvável. O primeiro problema surge na aparente ênfase na cooperação econômica e militar entre os países da região, com pouco sendo falado sobre necessárias integações política, lingüística e cultural. O Brasil sempre foi um país deslocado, que não se encaixa em grupos, com uma História peculiar. Será preciso que abandonemos séculos de isolamento e suspiro pela Europa (e agora EUA) para darmos as mãos a nossos hermanos e partimos juntos na caminhada.
Também há o problema da difícil conciliação dois blocos de esquerda da América do Sul. De um lado, Venezuela e Bolívia, por exemplo. Do outro, Brasil e Chile. Modelos distintos. Por onde iremos. Eu voto em tentar aderir a um modelo próximo da social-democracia para começar. Com grande ênfase na educação (está na hora de revermos os livros de História e Geografia para darmos mais ênfase à região) e na melhoria dos serviços públicos. Uma bolsa-família para toda a região ajudava, mas melhor mesmo seria implantar o projeto de renda-mínima do Suplicy. O quanto antes. Incentivar o intercâmbio entre universidades sul-americanas. Integrar as pessoas e não só as moedas. Por sinal, só pode haver moeda única se houver unidade na política econômica. E aí quem vai mandar?
De toda forma, apoio essa causa. E torço pra que saia do papel.
http://noticias.br.msn.com/brasil/artigo.aspx?cp-documentid=7689018
23.5.08
Parabéns ao TJ-SP!!!
Segundo decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), portar droga para consumo próprio não é crime. Já é um avanço - não só em nome de uma futura e inevitável legalização do uso de drogas, mas da própria coerência. Se esse uso não ofende a terceiros, é uma opção pessoal e portar bebida alcoólica não dá cadeia, por que diabos portar cocaína, maconha ou crack daria?
Vitória do bom senso ante a truculência da Direita "a-culpa-é-sua-maconheiro". Essa gente que se preocupa mais se o filho está fumando baseado do que se está formando gangues para espancar - bêbados ou não - pessoas indefesas! E a culpa da brutalidade nos morros não é do usuário que "financia" o tráfico, é do Estado que abandonou a área, da publicidade que fratura a alma dos jovens ao atar sua identidade e aceitação social ao consumo voraz, de nossa cultura racista (somos racistas, sim!) e classista - que vai barrando oportunidades àqueles que serão cooptados pelo tráfico, da indústria das armas que fornece todo o necessário, da polícia - em grande parte corrupta, visceral, despreparada etc.Do mesmo modo que a Chicago da Lei Seca não tinha seu crime ligado aos apreciadores de um bom uísque, não vamos cometer a burrice de relacionar todas as mazelas sociais das favelas aos usuários de drogas!
21.5.08
esquerdas e equívocos
Não é de hoje que boa parte da esquerda tem o péssimo hábito de apoiar qualquer pretenso messias que vocifere duas ou três palavras de ordem que caem no gosto da multidão extática. São as raízes judaico-cristãs do Ocidente que nos levam a tal disparate? É uma mania desagradável essa de eleger ídolos para os miseráveis, campeões da justiça social... e entregar de modo tão vergonhoso todos os nossos sonhos aos despropósitos de quem quer que seja.
Agora é esse militar bonachão, metido a frases de efeito e lastimáveis mostras de falta de tato. Sutileza é a palavra-chave da política. Os militantes podem até fazer alarde em momentos-chave, mas - cáspita! - governantes têm de manter algum decoro. Ainda mais um de esquerda - se de esquerda for. Argumentos não nos faltam, amigos. Pra que, então, apelar pra estupidez? Perdemos nossa herança iluminista e viramos românticos, ébrios de nonsense?
Vamos apoiar qualquer um que se diga de esquerda? Estamos tão carentes de líderes que vamos abanar o rabinho pra qualquer coronelzinho megalomaníaco que se pretenda comandante da Revolução ("bolivariana" - válida para toda a América Hispânica então? Pensem nisso)? De meu lado, eu diria que Bakunin se reviraria no túmulo se os anarquistas (na qualidade de membros da esquerda) apoiassem tal tipo de "revolução", concedida verticalmente por um fulano que se pensa porta-voz do povo! Mesmo Marx e Engels (patriarcas do comunistas, nossos fraters e tantas vezes algozes) não apoiariam tal disparate. Foi justamente esse voluntarismo ingênuo que levou às pretensas "revoluções socialistas" pelos grotões do mundo, com as conseqüências que bem conhecemos.
Não apoiamos Fulano ou Beltrano em si. Só lhe damos apoio na medida em que ele governe segundo os ideais que defendemos. Não importa se ele veste vermelho e grita "Viva o Che!", nem se cita o Chomsky ou protesta contra o "imperialismo ianque". Blá-blá-blá. Não importa sequer se ele, como nosso presidente, tivesse um histórico invejável de luta "pela causa". Importa que a revolução não só não será televisionada, como não será concedida. Ela se dá. E é o povo que a faz, com suas próprias mãos.
Felizmente, Chávez é mais patético que perigoso. Ele não é Stalin ou Mao. Não é sequer Lênin - e isto é ótimo. É hora de abandonar o caudillismo e julgar os líderes por seus atos, não pela posição ideológica que dizem defender. Lutar por ações concretas em vez de aplaudir discursos vazios. Nada de salvadores! Todo poder ao povo, não a seus ridículos governantes!
E agora, como se não bastasse apontar capetas na assembléia da ONU, esse Bush vermelho dos trópicos pretende falar em nome de "Deus", exatamente como seu pretenso algoz. É como canta certeiramente Bob Dylan: qualquer Zé Mané diz que tem "God on his side".
16.5.08
A Califórnia subiu no meu conceito
Veja a notícia no link abaixo:
http://noticias.br.msn.com/artigo_bbc.aspx?cp-documentid=7489051
14.5.08
Ar engarrafado
Como todos já devem saber, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pediu demissão. Há quem comemore. A bancada ruralista só falta dar pulos de alegria. Sugiro que façam churrascos de peixe-boi em suas fazendas de gado e soja. A mesquinharia economicista venceu mais uma batalha. Em nome do pretenso "crescimento" devasta-se nações de terra amazônica. E não se trata de pôr os peixes acima dos humanos. Trata-se de não destruir a própria casa. Senão, como diz a Bíblia (que a Direita adora citar levianamente), o vento será nossa herança. O vento desértico que vai intoxicar os pulmões e nos forçar a comprar o que já foi de graça.
Hoje pagamos caro pela água que antes sorviamos dos rios. Amanhã, engarrafarão o ar. Poderemos adquiri-lo em máquinas de refrigerante. Eis o supremo paraíso dos capitalistas. Quando o último recurso natural gratuito for contaminado... quanto tudo que ainda houver de natureza "intocada" estiver disposta em museus, reservas particulares, zoológicos e oceanários... nada mais será de graça. Tudo, enfim, será Mercado.
Ministra, tua saída entristece a todos que esperávamos um mínimo de bom senso dos recém-convertidos aos ditames de Moloch, à doutrina sacro-santa do deus Consumo. Parafraseando o espanto de um índio ante a cobiça dos colonizadores europeus: "Essa gente come dinheiro?". Quando os últimos mananciais de vida forem esgotados, os sábios especuladores e os mega-empresários definharão felizes em suas mansões de luxo?
4.5.08
mal-estar
a idéia da cerca detém mais que o arame.
a temer? este alvor consentido!
putrefazem o virá, as carcaças? resisto
e os senões me espedaçam! recebo
e este pus nunca cessa! serenar. esquecer.
tanta a lama nutriu nosso papa...
não a terá preenchido a canalha?
[p.s.: "Je suis crapule", como diz Rimbaud. "Eu sou da canalha".]
[p.s.p.s.: poema meu publicado no overmundo. Reflete bem meu dilema cotidiano.]
2.5.08
LOAS - Livre Orientação Afetivo-Sexual como direito fundamental da pessoa!
O desenho acima é de Adão Iturrusgarai, um de nossos mais importantes quadrinistas. Pode parecer um ataque gratuito, mas não é. Não sei se o papa atual tem suas taras por jovens avantajados, mas a História da Igreja é tão repleta de escândalos sexuais que seria mais honesto da parte deles rever seus conceitos de uma vez. Preferem, contudo, a hipocrisia dos claustros, dos bebês enterrados no subsolo, das transferências apressadas. Seria mais digno se rasgassem as batinas e promovessem orgias no confessionário. Seria mais humano. O Papa e seus associados precisam trepar mais às claras.
Não estou questionando as crenças fundamentais do catolicismo: santíssima trindade, eucaristia, ressurreição dos mortos etc. Estou apenas questionando os preceitos que envolvem a sexualidade, porque a Igreja tem sido o principal inimigo, no Ocidente, da Livre Orientação Sexual. Assim como se pode lutar contra a Inquisição sem deixar de ser católico, pode-se questionar, dentro de qualquer religião, determinados preceitos que vão contra os direitos fundamentais da pessoa sem deixar de pertencer à religião específica. Não é preciso levar o pacote completo. Toda religião pode ser melhorada. Como humanista, não vejo nada mais sagrado do que a pessoa. É em nome da Pessoa que faço um clamor aos conservadores: abram a cabeça! Enxerguem a pessoa que há em cada "herege", "pervertido", "infiel". E esse é um clamor que faço a conservadores de todas as religiões, mesmo os laicos. É de amor que falamos.
Minha moral afetivo-sexual é simples. Todos os intercursos afetivo-sexuais são legítimos desde que haja reconhecido consentimento dos participantes. Assim, desde que as pessoas envolvidas estejam em pleno uso de sua faculdade de consentir (maduras e sanas o bastante) e de fato consintam com a relação durante todo o seu desenrolar, não importa que sejam do mesmo sexo ou da mesma família. É uma postura que decorre naturalmente de minhas considerações humanistas e sei que é difícil os conservadores aceitarem, mas, se de fato desejam, tendo ciência do que desejam, e todos atestam que o desejo de fato é recíproco, por que diabos não amar?
Como é preciso maturidade para consentir, é preciso que as partes não sejam muito jovens. Dependerá da educação dada, dos costumes do grupo e fatores correlatos determinar uma idade padrão para início da vida afetivo-sexual (ritos de iniciação na comunidade podem marcar essa data) ou analisar caso a caso. Também é preciso que as partes envolvidas estejam em pleno uso de suas faculdades físicas e mentais. Não importa nada como homossexualidade, heterossexualidade, bissexualidade, panssexualidade ou assexualidade... Importa o real desejo, o real consentimento. Se alguém amar, a princípio, pessoas do mesmo gênero, e depois uma de outro gênero, e depois três de gêneros variados, e todas consentirem, não se deve reprová-la como devassa, pervertida, confusa. Se todos consentem, por que não?
Os únicos fatores que detêm a livre orientação são o risco de uma gravidez indesejada e a possibilidade de adoecer. Por isso boa parte da Direita tenta impedir a distribuição de camisinhas, anticoncepcionais e até vacinas contra HPV (doença que, por sinal, é transmitida também fora de relações sexuais)! Por isso o impedimento do aborto, mesmo em casos de estupro (relação não-consentida, por isso sempre execrável!). Odeiam o sexo, porque odeiam o corpo, e assim acabam por odiar a vida. Se desvincularmos o sexo da gravidez e minimizarmos as chances de contrair DSTs, o caminho estará aberto para uma nova forma de encarar a sexualidade e o próprio afeto. E quão maravilhoso pode ser o mundo que daí advenha!
1.5.08
Yom HaShoah
maio de 68
sobre o jornalismo
Um outro jornalismo é possível?
Tenho uma visão equivocada do Jornalismo, já me disseram e concordo. Associo, que crime!, os membros dessa irmandade maçônica aos antigos bardos, bravos narradores de eras remotas, que muito antes do cinema inventaram um jeito de projetar imagens de longínquas odisséias para deleite dos desafortunados que passavam suas vidas miseráveis distantes dos grandes eventos. Os poetas de então rondavam léguas sem fim, perpetuando os nomes dos heróis, incitando o temor aos deuses, cativando a audiência, as mentes jovens do mundo.
Nesse ponto devo argumentar em meu favor que sou louco, que me encontro atado à nau da insânia a milhas de qualquer cais. Afinal, sugiro ter sido o grande Homero nada mais que um precursor da Imprensa! Os iluminados que compuseram os vedas não obtiveram um furo de reportagem ao dissecar a essência sutil dos homens? E, por acaso, não se valeram de alguns “critérios de noticiabilidade” os felizes autores da Bíblia? Ora, graças a Deus, naqueles tempos não havia ainda a décima terceira praga, a técnica da pirâmide invertida!
Que temos nesses exemplos, quiçá exagerados, mas ainda assim sinceros, que se possa contrapor à Mídia contemporânea e seus cânones? Simples! São boas histórias contadas de modo excepcional. Certo, quase ninguém as lê, mas ainda assim reverberam séculos após sua concepção nas mentes de seus leitores e dos leitores de seus leitores. Desfrutam de peculiar eternidade. Seguirão sendo contadas enquanto houver humanidade. Que jornalista hoje espera mais que a atenção de uns dias?
Quando entrei para a Faculdade, queria ser um colecionador de estórias. Eu partilharia minhas preciosas narrativas com todos, seria lido com a ânsia que a criança (do século XIX) lia Júlio Verne, ou os relatos de um Crusoé. Falaria de terras estranhas e de costumes estranhos, mas não dos encontravéis na face oposta do globo, não, falaria dos que estão incrustados no coração da cidade. Estenderia o mundo aos olhos do mundo, como se apresenta um bicho a si mesmo no espelho e ele se estranha.
Jornalismo para mim era partilhar experiências, engrandecer a vida de cada pessoa com relatos sublimes. Que desvio tomamos, que a informação seguiu na contramão do conhecimento? Em que momento a atualidade adquiriu tal autonomia da História? Afinal, a Humanidade é mais que o instante, é o constante. Ficar preso ao efêmero inda há de nos pôr vazios.
Tinha essa idéia estúpida quando entrei para a Universidade. Mas nada melhor para assassinar a inocência do que constantes doses desse cinismo arrogante dos acadêmicos de alma enrugada. Eles vivissecam passionalmente seu objeto de estudo, violentam com gozo, tomam posse de cada peculiaridade, cada reentrância formal. Tornam-se, enfim, donos de certas verdades invioláveis. Estabelecem dogmas ateus, como quem ergue obeliscos em honra a suas consciências fálicas, rasgando o Céu como à boceta de Pandora.
Aplicam suas regras como quem ata um cão a um canto por uma corrente cortante. Há certo sadismo de sua parte ao ver o sangue escorrer fino dos animais revoltos. Valem-se de seu sarcasmo, com um sorriso irritante, um deboche em forma de pergunta retórica... Somente quando percebem que o aluno adaptou-se à coleira, sossegam e se recostam em suas poltronas reclináveis para os delírios cotidianos.
Gostam de nos empurrar certos conceitos fugazes, inúteis, frustrantes. Não admitem, mas temem a criatividade como quem foge à cruz. Almejam a sociedades perfeitamente regradas, onde reine a infalível Moral, em que cada qual aja conforme o plano, atenha-se ao combinado, e nada seja imprevisível. Têm frêmitos ejaculatórios ao ler “A Revolução dos Bichos”.
A seus aprendizes, carneiros rumo à tosquia, nada resta senão rezar por sua cartilha. Afinal, é isso que é jornalismo, não? Ou será que um outro jornalismo é possível? A resposta, meus amigos, não me cabe dar. Leia a Bíblia.
as normas
Wesley Pereira de Castro, uma das pessoas mais incríveis que já conheci, costuma dizer que "é mais desafiador romper com as normas dentro das normas". Essa frase ele me disse logo que a gente se conheceu, em 2001, e ainda hoje me acompanha. Certa vez, Bruno Pinheiro, outro sujeito fantástico, me disse que o mais interessante em mim era que eu cumpria os requisitos da máxima de Wesley. Mas eu não sabia se desejava um desafio pessoal ou uma subversão mais eficaz.
Entrei para o CMI quando ainda cursava jornalismo, querendo "fazer a diferença". Meu grande feito desse período foi, contudo, fora do coletivo (embora imbuído de seu espírito), quando redigi um panfleto contra a letargia política do jornal laboratório. Naquele momento, como ainda hoje, eu tomava a apatia generalizada como conservadorismo passivo. [Não demorou muito para este deixar sua passividade e mostrar as garras, como se revelou recentemente.] Eu tomei uma posição. Despreparado (ainda mais do que hoje), travei minhas batalhas particulares que fizeram leves ondas na placidez do curso. O futuro era sombrio. Eu seria enquadrado. Comecei um estágio e vi como não me encaixava na profissão que escolhera por ignorância e na qual persistia pela mesma apatia que denunciava nos outros. Percebi que hipocrisia nem sempre é proposital.
Consegui, felizmente, não trabalhar na área de minha graduação. Mal me formei, vi-me inserido no mestrado em Sociologia da UFS, com bolsa Capes e alguma independência. Morando com a namorada perto da universidade que é quase toda a minha vida. Descobri pelas leituras e noites insones que talvez a subversão mais eficaz seja, de fato, aquela que se faz de dentro das normas, mudando o modo de agir das pessoas aos poucos, como o mar a esculpir rochedos. Entrar para a vida acadêmica não só me livrou de ser jornalista, como me garantiu as ferramentas para melhor processar meus pensamentos anárquicos. Sou cada vez mais utópico, cada vez mais sonhador e, em meus delírios, tento formular as bases de uma revolução invencível, porque silenciosa.E não é que Wesley tinha razão?
23.4.08
democracia - texto de 2004?
20.4.08
liberalismos
a única solução para esse impasse é aceitar que há ao menos dois liberalismos:
1. um liberalismo econômico, que preza a "livre concorrência" de bens e serviços;
2. um liberalismo político-cultural, que preza a "livre concorrência" dos modos de vida e de pensamento.
é um equívoco acreditar que não se pode ser liberal apenas em um desses caminhos, mas também não é correto crer que a disponibilidade contínua de múltiplos caminhos existenciais (devidamente formatados para circular no mercado de idéias) possa se sustentar sem o livre-mercado de bens e serviços, com toda a desigualdade que este acarreta. a pluralidade de "tribos urbanas" formando pacotes identitários para consumo é conseqüência das demandas sacralizadas do mercado de bens e serviços. ao contrário do que pensa nosso bom Olavo de Carvalho, o livre-mercado não é a melhor maneira de conservar tradições. ele se fez, se mundializou, de fato, devastando culturas. essa questão chega a ser ponto passivo para muitos. a modernidade, como contínuo processo de destruir para reformar, essa fome incessante pelo sempre-novo, é fruto do capitalismo, e floresce com mais força em locais onde o mercado se move sem intervenções. as tradições são abaladas, quando não destruidas. novas tradições são constantemente inventadas - e já nascem sob o signo da obsolescência programada.
mais coerente era a direita aristocrática, que atacava o liberalismo em todas as suas faces, pois sabia que ele representava a decadência do antigo modelo, o fim dos antigos privilégios (por hereditariedade, principalmente). a direita burguesa, contudo, não conseguiu fugir à esquizofrenia de sua condição instável. são como as criaturas aderidas à roda da fortuna (arcano X). são geralmente nouveaux riches. não podem apelar para o sangue azul ou a decisão de Deus - soam ridículos quando o fazem. ao proletarizarem os antigos servos, ao urbanizarem seu domínio, juntando culturas diversas num mesmo espaço, contribuíram para a ubiqüidade da desconfiança que rege as atuais relações. a ciência e a técnica cresceram muito sob os auspícios de industriais e comerciantes. cresceu também, com isso, a razão instrumental. com ela, a exigência de provas (até a Igreja parece curvar-se à ciência - mas só em aparência, claro).
ao transformar tudo que dava em mercadoria, até a própria identidade - e assim os elos culturais - foi mercantilizada. o livre fluxo de bens não pode acontecer sem o livre fluxo de gente e de idéias. o choque contínuo entre estranhos ajudou a relativizar as crenças para alguns, mas fez outros tantos fecharem-se para o mundo. a modernidade engendrou o cosmopolitismo do mesmo modo que permitiu o surgimento dos fundamentalismos que hoje a assaltam. os fundamentalismos são respostas de tradições ao avanço do liberalismo cultural com seu "tudo é válido", todas as diferenças devem ser defendidas (desde que essas diferenças defendam elas mesmas as diferenças alheias, isto é, desde que só sejam diferentes na superfície, mas liberais na essência), o que quer dizer que nenhuma diferença é significativa o suficiente para dominar as outras, só o próprio liberalismo cultural - que serve de cultura suserana sob a qual as culturas vassalas podem subsistir. a mensagem passada é a de que o destino de cada um está sob seu controle, quedamos ante a suprema decisão da pessoa quanto ao caminho que deve seguir. cada qual escolhe que cultura vai usar hoje.
há fluxos e refluxos, mas em sua base os liberalismos se complementam. o capitalismo e a modernidade são faces da mesma moeda. os feiticeiros não sabem lidar com o demônio que evocaram (diriam-no Marx e Engels tão acertadamente). não dá pra ter capitalismo e aristocracia ao mesmo tempo, como há quem queira. não dá pra democracia ser uma busca pessoal pela liberdade, como quer Olavo de Carvalho, com a hierarquia fluida que o capitalismo demanda. não dá pra manter claro quem está por cima, quem manda. as elites são momentâneas e baseadas em algo tão casual, tão efêmero, quanto a posse de dinheiro, esse recurso fugaz que não vê nome nem vê credo - para o quê nada há de sagrado. a economia de cassino em que vivemos não liga para as idéias babacas tão custosamente defendidas por velhos beatos. múltiplas orientações sexuais, religiosas, políticas, organizações familiares heterodoxas, tudo pode, tudo é válido, desde que venda, desde que dê lucro. o Mercado não é um enviado de Fátima. está muito mais para um acólito de Baco - e eis aí uma qualidade que vejo nele (apesar de tudo).
Moloch quer ouro! Moloch quer óleo! Moloch quer almas!
15.4.08
profissão de fé
me disseram que sou inteligente, mas imaturo... que pensarei diferente ao ter filhos, ou após ter lido Fukuyama, Slorterdijk ou Ortega y Gasset. a mim não importa. me mataria se percebesse que começava a acreditar ser superior a quem quer que seja. posso não suportar quase ninguém. "as gentes as amo abstratas", como digo no poema Passeio. mas meus rancores são defeitos meus, dos quais tenho consciência. não quero glamurizar falhas de caráter como se fossem atitudes de livre pensador. liberdade não é o direito do "mais forte" (em nosso caso, seria do mais esperto ou, mais comumente, do mais sortudo). liberdade é não-submissão.
a não ser que consideremos a liberdade um privilégio, e não um direito - sendo portanto algo cabível tão só às elites -, precisamos tomá-la como necessariamente coletiva. só se é livre pra valer quando todos os são (não me vem agora a citação de Sartre correspondente; está em "O Existencialismo é um Humanismo"). socialmente falando, só existe liberdade de fato em sociedades não divididas entre Soberanos e Submissos. nas outras, não se tem mais que um arremedo. na nossa, uma transposição moderada da "liberdade do consumidor" para a vida política. são dispostas à escolha de quem tem cacife um rol de opções previamente escolhidas (Debord fala sobre isso em "A Sociedade do Espetáculo").
a liberdade deve ser aspersa no todo da sociedade. ela não deve ser resultado da cisão entre benditos e desgraçados. liberdade e igualdade se coadunam. a fraternidade é o impulso inicial, a perseverança intermediária e a coesão final. não há contradição entre essas palavras-chave. há simbiose. a direita não defende a liberdade sem igualdade, defende o aprofundamento ou ao menos a continuidade da cisão entre Soberanos e Submissos. defende a distribuição desigual de recursos e oportunidades. levada ao extremo (e é tão fácil levá-la ao extremo), a retórica direitista, com sua sanha hierarquizadora, levaria a um "Admirável Mundo Novo" onde cada indivíduo seria geneticamente construído para realizar uma função determinada (Slortedijk), a uma releitura dos Feudos (TFP) ou a novos genocídios nos moldes da Alemanha de Hitler.
democracia não deveria ser o mero sistema de eleição e legitimação de elites políticas rotativas, mas sim a participação de todos os interessados na tomada de decisões cruciais para todos. só há tal democracia em sociedades que rejeitem a cisão entre Soberanos e Submissos. nesse aspecto, uma verdadeira democracia deve ser fruto da concretização dos valores fundamentais da esquerda. obviamente, há divergências dentro da esquerda (nem sei se podemos falar de "esquerda" em vez de "esquerdas") sobre quais seriam esses valores fundamentais e que meios usar para concretizar tal utopia. ainda assim, não posso situar meu pensamento senão dentro desse multifacetado espectro ideológico, no lado onde pulsa meu coração. portanto, sou de esquerda.
já podem até sugerir conexões com traficantes e terroristas, mas antes terão de me arranjar um convite para o Foro de São Paulo.
14.4.08
humanismo e sonho
em nome de um pretenso "humanismo" muitas culturas foram desvastadas. mesmo que as pessoas não fossem destruídas, suas almas o foram. contudo, a reação a essa iconoclastia foi o isolamento das culturas. o reconhecimento da legitimidade do grupo se dá pelo atrelamento da pessoa a uma identidade que lhe é essencialmente legada. se, em nome da liberdade, o "progressismo" deixou as pessoas sem norte, se as entregou ao abandono existencial, ainda pior é a total alienação das escolhas às normas de padrão restritas dos agrupamentos fechados. o grande mal do dito "humanismo" da expansão do ocidente foi justamente o proselitismo de seus missionários. a conversão do outro em europeu (leia-se cristão) era a suposta pretensão dos conquistadores, a promessa de aceitação ocultava a armadilha assimilatória de que fala Bauman ("Modernidade e Ambivalência"). o indivíduo vindo de grupos marginalizados jamais era aceito de todo entre os "modernos", era sempre um pária, um "estranho". não à toa, a desconfiança tomou conta, o ressentimento cresceu e, aos poucos, os resistentes foram se fechando, se esmerando mais e mais em separar-se dos demais. alguns abraçaram o relativismo e chegaram a radicalizá-lo. "tudo é válido". todas as culturas têm uma forma clara, que permanece, que deve ser mantida preservada de contatos nocivos, que podem alterar seu modo de vida. a mudança é vista como algo negativo. ora, como chamamos alguém que teme a mudança? conservador! não há outro termo. parte da esquerda engoliu a retórica multiculturalista e desistiu de pensar sociedades melhores para todos. "em nome de quê vou interferir?" cuidado ao caminharem para não matar formigas. não respirem. não toquem em nada. não existam. caso contrário, estarão condenados a mudar tudo. tudo muda. a questão é "muda para o quê". cabe a nós decidir. e, se interagimos com outros, mudamos esse outros e esses outros nos mudam. nos adaptamos mutuamente. a convivência demanda algum consenso. se todas as pessoas de uma forma ou de outra convivem, elas devem se influenciar mutuamente. não podemos mais partir do princípio de que o europeu (ou quem quer que seja) é o ápice da humanidade e todos devem buscar alcançá-lo. a humanidade se fará (porque a humanidade não passa de um projeto incompleto) pela interação contínua entre as pessoas. não há porque abandonar o humanismo. basta revê-lo. regras mínimas de convivência, direitos mínimos para todos. igualdade, liberdade, fraternidade. igualdade com diversidade, porque todos são diferentes, mas ninguém é superior. a liberdade só se faz de verdade pela equitatividade da potência. a liberdade é coletiva. a fraternidade se faz pela percepção de nossa semelhança fundamental. tudo isso se completa. façamos o humano no convívio com os humanos.