1.5.08

maio de 68

Há exatamente quarenta anos, intelectuais de diversos países convulsionaram o Ocidente ao realizar o Ocidente com mais ímpeto que os séculos prévios. Jamais a igualdade foi defendida tão docemente. A revolução sexual começa com a conquista gradual de direitos por pessoas de gênero feminino e de orientação sexual hererodoxa. Conseguiu-se também que pessoas de coloração heterodoxa não fossem mais tomadas como inferiores impunemente. As crianças não seriam mais construídas ao bel prazer dos professores. Os casamentos não seriam mais sentenças de prisão perpétua. O sexo não seria mais encarado tão somente como mero mecanismo de procriação.

A liberdade veio da igualdade. Eis porque a direita execra a geração de 68. Como disse Hobsbawm, com a propriedade de costume, "a Idade Média acabou de repente" na década anterior aos eventos. Não à toa, Sarkozy falou que a França devia se livrar do "cinismo de 68". Mas o cinismo é da patotinha do primeiro ministro francês. Vivemos tempos cínicos porque estamos perdendo o espírito daqueles jovens. A direita recupera-se de sua própria estupidez e tenta ganhar ares de verdade esquecida. A intolerância cresce ao redor do globo. Os racistas e os sexistas ganham batalhas acadêmicas. A homofobia se espalha. Mas também aumenta o desejo de fechar-se em uma identidade resistente clara e aceitar o discurso reinante de que a desigualdade é inevitável. Os guetos proliferam. A liberdade decai.

A sociedade de consumo absorveu os ideais e os esvaziou para mercantilizá-los. "Eles venceram e o sinal está fechado pra nós, que somos jovens", como diria Belchior. Woodstock agora só se for "free of drugs". A nosso redor, quantas práticas terapêuticas! O que representam? Quem está doente? O Ocidente está. Esqueceu seus fundamentos. Trocou seus ideais por uma televisão de plasma. E os jovens a lutar tão só para não pagar o ônibus. Decaímos.

A morte do criador do LSD, Albert Hofman, na última terça-feira, marca o fim de uma era. "O sonho acabou" e já não nos deixam dormir. Vivemos em tempos cínicos, vivemos em tempos desiguais. A falta de liberdade é conseqüência. Vivemos em tempos caretas, em tempos beatos, em tempos apáticos. Tempos mesquinhos, como bem notam Badiou, Bauman e tantos outros. Como dizia Gonzaguinha em 1981: "Não há nada mais maior de grande do que a pessoa". É isso que o maio de 68 nos ensinou e agora parecemos esquecer.

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