21.5.08

esquerdas e equívocos


Não é de hoje que boa parte da esquerda tem o péssimo hábito de apoiar qualquer pretenso messias que vocifere duas ou três palavras de ordem que caem no gosto da multidão extática. São as raízes judaico-cristãs do Ocidente que nos levam a tal disparate? É uma mania desagradável essa de eleger ídolos para os miseráveis, campeões da justiça social... e entregar de modo tão vergonhoso todos os nossos sonhos aos despropósitos de quem quer que seja.

Agora é esse militar bonachão, metido a frases de efeito e lastimáveis mostras de falta de tato. Sutileza é a palavra-chave da política. Os militantes podem até fazer alarde em momentos-chave, mas - cáspita! - governantes têm de manter algum decoro. Ainda mais um de esquerda - se de esquerda for. Argumentos não nos faltam, amigos. Pra que, então, apelar pra estupidez? Perdemos nossa herança iluminista e viramos românticos, ébrios de nonsense?

Vamos apoiar qualquer um que se diga de esquerda? Estamos tão carentes de líderes que vamos abanar o rabinho pra qualquer coronelzinho megalomaníaco que se pretenda comandante da Revolução ("bolivariana" - válida para toda a América Hispânica então? Pensem nisso)? De meu lado, eu diria que Bakunin se reviraria no túmulo se os anarquistas (na qualidade de membros da esquerda) apoiassem tal tipo de "revolução", concedida verticalmente por um fulano que se pensa porta-voz do povo! Mesmo Marx e Engels (patriarcas do comunistas, nossos fraters e tantas vezes algozes) não apoiariam tal disparate. Foi justamente esse voluntarismo ingênuo que levou às pretensas "revoluções socialistas" pelos grotões do mundo, com as conseqüências que bem conhecemos.

Não apoiamos Fulano ou Beltrano em si. Só lhe damos apoio na medida em que ele governe segundo os ideais que defendemos. Não importa se ele veste vermelho e grita "Viva o Che!", nem se cita o Chomsky ou protesta contra o "imperialismo ianque". Blá-blá-blá. Não importa sequer se ele, como nosso presidente, tivesse um histórico invejável de luta "pela causa". Importa que a revolução não só não será televisionada, como não será concedida. Ela se dá. E é o povo que a faz, com suas próprias mãos.

Felizmente, Chávez é mais patético que perigoso. Ele não é Stalin ou Mao. Não é sequer Lênin - e isto é ótimo. É hora de abandonar o caudillismo e julgar os líderes por seus atos, não pela posição ideológica que dizem defender. Lutar por ações concretas em vez de aplaudir discursos vazios. Nada de salvadores! Todo poder ao povo, não a seus ridículos governantes!

E agora, como se não bastasse apontar capetas na assembléia da ONU, esse Bush vermelho dos trópicos pretende falar em nome de "Deus", exatamente como seu pretenso algoz. É como canta certeiramente Bob Dylan: qualquer Zé Mané diz que tem "God on his side".

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