1.5.08

as normas



Wesley Pereira de Castro, uma das pessoas mais incríveis que já conheci, costuma dizer que "é mais desafiador romper com as normas dentro das normas". Essa frase ele me disse logo que a gente se conheceu, em 2001, e ainda hoje me acompanha. Certa vez, Bruno Pinheiro, outro sujeito fantástico, me disse que o mais interessante em mim era que eu cumpria os requisitos da máxima de Wesley. Mas eu não sabia se desejava um desafio pessoal ou uma subversão mais eficaz.

Entrei para o CMI quando ainda cursava jornalismo, querendo "fazer a diferença". Meu grande feito desse período foi, contudo, fora do coletivo (embora imbuído de seu espírito), quando redigi um panfleto contra a letargia política do jornal laboratório. Naquele momento, como ainda hoje, eu tomava a apatia generalizada como conservadorismo passivo. [Não demorou muito para este deixar sua passividade e mostrar as garras, como se revelou recentemente.] Eu tomei uma posição. Despreparado (ainda mais do que hoje), travei minhas batalhas particulares que fizeram leves ondas na placidez do curso. O futuro era sombrio. Eu seria enquadrado. Comecei um estágio e vi como não me encaixava na profissão que escolhera por ignorância e na qual persistia pela mesma apatia que denunciava nos outros. Percebi que hipocrisia nem sempre é proposital.

Consegui, felizmente, não trabalhar na área de minha graduação. Mal me formei, vi-me inserido no mestrado em Sociologia da UFS, com bolsa Capes e alguma independência. Morando com a namorada perto da universidade que é quase toda a minha vida. Descobri pelas leituras e noites insones que talvez a subversão mais eficaz seja, de fato, aquela que se faz de dentro das normas, mudando o modo de agir das pessoas aos poucos, como o mar a esculpir rochedos. Entrar para a vida acadêmica não só me livrou de ser jornalista, como me garantiu as ferramentas para melhor processar meus pensamentos anárquicos. Sou cada vez mais utópico, cada vez mais sonhador e, em meus delírios, tento formular as bases de uma revolução invencível, porque silenciosa.

E não é que Wesley tinha razão?

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